terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O reitor do banheiro

No início dos anos 90 eu trabalhava numa empresa de computação gráfica. Empresa é um certo exagero, era mais um escritório caoticamente administrado por um engenheiro ávido de poder entre políticos.
Era época de reserva de mercado de computadores e ele descobriu uma maneira de fazer dinheiro. Produziu dois softwares de computação gráfica e os instalou em computadores nacionais. Vendia o produto para grandes corporações nacionais que o doavam para as universidades e descontavam do imposto de renda. Este projeto era administrado pela então poderosa Secretaria Especial de Informática - SEI dentro de um programa de reaparelhamento computacional das universidades. Não lembro o nome exato do programa.
Coube a mim e a um colega anunciar as doações para os reitores das universidades espalhadas pelo Brasil e combinar a assinatura dos contratos e as entregas. Eu me sentia o próprio Papai Noel.
Claro que cada universidade reagiu diferente e foi uma balburdia conseguir as assinaturas dos respectivos reitores em território geográfico tão extenso.
Lá pelas tantas faltava apenas a assinatura do reitor de Universidade de Brasília, ninguém menos que Christóvam Buarque. Como ele vinha à São Paulo participar de um evento no Anhembi, combinou de assinar o contrato lá e eu fiquei de mandar um motorista encontrá-lo.
O motorista Lourismar, bronco como ele só, foi incumbido desta tarefa. Treinei-o como se dirigir respeitosamente a um reitor, e o mandei para o encontro. A partir daí só conheço os fatos pelo que contou o próprio: ficou esperando e esperando o reitor na porta de entrada mas lá pelas tantas teve necessidade de ir ao banheiro e foi resmungando. Resmungou dentro do banheiro e um senhor aproximou-se dele perguntando porque estava tão nervoso. Respondeu que tinha de encontrar um reitor que não conhecia e que eu iria matá-lo se voltasse sem a assinatura do contrato. 
Este senhor respondeu: o reitor sou eu e assinou o contrato no banheiro mesmo!


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