sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Meu primeiro emprego

Por estes dias comemorou-se os 150 anos do funcionamento do Metrô de Londres.
Os engenheiros e arquitetos fizeram a pioneira obra mandando cavar e revestir túneis com pás e picaretas. A invenção do tatuzão deu-se mais de um século depoisLondres tinha dois milhões de habitantes e segundo a época o trânsito de carruagens, charretes e ônibus puxados a cavalo era um caos e tiveram a ideia de cavar túneis para passagens de trens a vapor no subterrâneo. Era inédito. Ninguém no mundo inteiro tinha feito algo igual e iniciaram as obras sem nenhuma literatura ou referência, experiência ou obra parecida. Conseguiram a façanha. 
Vai aí uma ilustração das obras da King's Cross Station, por volta de 1895.


Estas comemorações do Underground de Londres me fizeram lembrar o meu primeiro emprego formal. Sim, formal, pois antes havia trabalhado informalmente como professora particular e kardecista (alguém ainda se lembra disto?) numa oficina mecânica.
Meu primeiro emprego formal foi como estagiária de biblioteconomia no Consórcio Hochtief-Montreal-Deconsult dos estudos de viabilidade do metrô de São Paulo.
Eu nem sabia o que era estudo de viabilidade e vim a saber da maneira mais estressante possível. O trabalho na biblioteca técnica era agitadíssimo pois além dos livros e artigos técnicos sobre todos os metrôs do mundo, eu também era responsável por todas as plantas e desenhos que os engenheiros e arquitetos produziam bem como normas técnicas internacionais. Meu horário era de meio período mas o serviço era tão puxado que eu chegava a matar aula na faculdade para ir trabalhar fora do meu horário oficial para dar conta do recado. Todos os dias era obrigada a assimilar coisas novas.
Como detalhe quero aqui contar que os arquitetos, também exímios desenhistas, quando desenhavam as estações movimentadas retratavam todos os colegas do escritório como usuários dos trens e mesmo eu fui retratada em alguma das estações, não me lembro qual.
Recebíamos constantes visitas do então Prefeito Faria Lima e algumas vezes do então Ministro dos Transportes Mário Andreazza, com seus lindos olhos verdes. Apareciam também muitas outras autoridades que queriam tirar uma casquinha do badalado escritório. Iam de mesa em mesa fazendo perguntas cretinas.
Assisti a confecção dos estudos de origem-e-destino que cravaram a linha leste-oeste como a mais necessária mas o jogo político reinante fez com que a primeira linha construída fosse a norte-sul.
Assisti aos embates entre economistas brasileiros e alemães (ríamos muito dos alemães pois trabalhavam de sandália e meia) sobre o custo da passagem. Dava impressão de que os alemães tinham bola de cristal.
Assisti a muitos embates políticos, mas por ser muito inexperiente não entendia tudo o que se passava. 
Foi assim que iniciei minha carreira como bibliotecária em bibliotecas técnicas. Foi um bom aprendizado.

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