segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mãe de velejador - 1

Ser mãe de criança velejadora não é fácil. Deve ser mais ou menos como mãe de modêlo.
Meu filho começou muito cêdo na vela, lá pelos 7 anos, e não conseguia nem carregar os próprios equipamentos e se atrapalhava em tudo. Fui acompanhando e ensinando mas o grosso do serviço de montagem, desmontagem e manutenção sobrava para mim. Tudo bem, mãe é prá essas coisas mesmo.
Logo no ano seguinte em que começou teve um campeonato brasileiro no Rio de Janeiro e obviamente êle não se classificou para participar pois ainda era muito mirim. Mas havia a modalidade paralela “aberto” no qual as crianças todas podiam participar. Julguei que seria um ótimo incentivo e aprendizado e lá fomos nós ao Rio.
Foi nossa primeira investida em viajens de velejador. E foi uma desgraça total.
O barco foi colocado em cima do carro com um rack e lá fomos pela Dutra. Na altura da Baixada Fluminense percebí que o barco se mexia muito e paramos para verificar. Logo veio um moleque e nos assaltou. Seguimos viajem e com uma mão fui segurando o barco enquanto um amigo meu guiava. Chegamos ao Iate Clube Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, esbaforidos e assustados e verificamos que o rack estava completamente solto com os parafusos espanados.
Bem, montamos o barco e lá se foi o meu moleque baía de Guanabara afora com seu barquinho Optimist. Enquanto isso fui aprender o caminho até a lagoa Rodrigo de Freitas onde aluguei um apartamento do amigo de meu amigo. Isto foi um grande êrro porque era muito longe e tinha de trafegar por toda a av. Brasil de manhã e de noite. Era janeiro e todo dia chovia muito e peguei inúmeras inundações. Foi aterrador. Desde essa época fiquei com pânico de inundações. Traumatizei.
As regatas começaram, meu filho se deparou pela primeira vêz com a questão das marés que não conhecia, visto que só conhecia a represa Guarapiranga, mas foi indo direitinho. Eu ficava em terra angustiada porque não podia vê-lo pois a raia de regata era muito longe, mas é claro que havia esquema de salvamento em caso de necessidade. Eu mesma fiz isto muito na Guarapiranga e não deveria ficar aflita mas fiquei.
Mas numa brincadeira de final de tarde no clube o filhote machucou fortemente o dedão do pé. Tirou pedaço, com se diz, e perdeu a unha. Foi atendido pela minha amiga médica que decretou que não poderia molhar o pé por um bom tempo. Quem conhece barco sabe que o pé molha mesmo. Resultado? Regatas perdidas.
Ficamos no Rio durante todo o campeonato e meu Ingo ainda participou das últimas regatas apenas como treineiro quando o pé já estava melhor.
Comprei um rack novo e meus amigos instalaram no carro, colocamos o barco e toca prá São Paulo. Eu não sabia sair da Ilha do Governador para a Dutra e fui atrás de outro amigo que me guiou até lá, depois acenou e pisou fundo e foi embora. Pouco depois, ainda na Baixada Fluminense (de novo) verifiquei que não via mais a ponta do barco pelo vidro do carro. Ai meu deus, perdí o barco? Olhei pelo retrovisor e não ví nada na Dutra e fui para o acostamento. Os parafusos do novo rack também haviam espanado e o barco estava deitado no capô do carro. E agora??
Respirei fundo, tranquei meu filho dentro do carro e me plantei ao lado da estrada para esperar outros amigos com barco na capota, morrendo de medo de novo assalto. Por sorte não precisei esperar muito pois logo apareceram tres velejadores para me ajudar. Um deles puxou ostensivamente uma arma e ficou rondando os carros e os outros dois fizeram uma amarração com cabos que por sorte tinham, colocando o rack em pé e amarraram até nos parachoques do carro com nós de caminhoneiro. O carro parecia um ôvo de páscoa sobre rodas.
Assim cheguei em São Paulo. Como não corrí muito os velejadores chegaram antes no meu clube e contaram as minhas façanhas de mãe de velejador e tomei muita gozação mas também solidariedade.

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