segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mãe de velejador - 3

Com o passar do tempo o meu filhote foi se firmando na vela e, já veterano gabaritado, foi classificado para um campeonato pré-mundial em Florianópolis.
Trabalho para a mamãe: os barcos todos iriam de caminhão e a criançada de ônibus. Tudo bem. O problema foi que o caminhão atrasou sua chegada e lá ficamos nós de madrugada e na chuva carregando os barcos. São frágeis e necessitam ser embalados e posicionados e amarrados no caminhão de tal forma que não quebrem ou tombem.  E carrega cascos, mastros, lemes, bolinas, retrancas, rolos de velas, etc. O motorista já havia carregado barcos antes e tinha conhecimento de modo que tudo saiu bem.
Fiz a mala do menino, não sem antes escrever o nome dele em todas as peças, pois era e ainda é, muito bagunceiro e esquecido.
 Partiu feliz e só depois ví que  eu cometí um êrro: esquecí de colocar a pilha de camisetas para duas semanas em sua mala. Não havia celular naquela época, início dos anos 90, e a comunicação com o clube era muito difícil. Decidí, no fim-de-semana seguinte, pegar um avião e levar-lhe as camisetas pois êle também não tinha dinheiro suficiente para comprar algumas.  Esperava encontrá-lo muito brabo mas que nada. Estava com a mesma camiseta de vários dias, velejando e brincando, achando tudo muito bom.
Hospedei-me no mesmo hotel de turma, um hotel horrível, sujo, sem água durante horas mas tinha a vantagem de ser do lado do clube e observei a molecada, todos felizes da vida, fazendo muita bagunça, mas obedecendo o técnico Dudu Melchert com muito respeito. Voltei para casa tranquila.
No fim-de-semana seguinte combinei de voltar para lá e voltar para São Paulo com o ônibus da molecada para ajudar a cuidar dêles.
Aí aconteceu um fato curioso no domingo pela manhã: todos tomavam café na varanda do hotel com vista para o mar quando alguém gritou: “tubarões!!!” Olhamos também e vimos as barbatanas. O Ingo arregalou os olhos dizendo baixinho: “tubarões coisa nenhuma, são golfinhos”e saiu correndo para montar o seu barco. Nunca montou tão rápido. Como era fanático seguidor dos seriados e revistas do Jacques Cousteau e adorava baleias e golfinhos, sabia muito bem distinguir alhos de bugalhos e eu acreditei nêle e deixei-o partir ao encontro dos seus queridos golfinhos. Pais aflitos queriam segurá-lo. Das 130 crianças só uma teve coragem de acompanhá-lo. Adorou chegar perto dos adorados animais.
A viajem de volta com o ônibus-leito naturalmente foi uma roubada: os moleques até que sossegaram cêdo porque estavam cansados mas quando de manhã, já perto de São Paulo, eu quis usar o banheiro...

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