quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mãe de velejador - 6

Mãe de moleque velejador sofre. Em 1990 meu menino foi classificado para participar de campeonato sul-americano de Optimist em Salinas, no Ecuador. Tinha só 14 anos. Ai, meu deus, ir sozinho, sem a mamãe, para um país estranho? A equipe brasileira era grande, uns quinze velejadores, chefe de equipe, técnico e alguns pais que acompanharam. Mas eu não pude ir e tive uma sensação estranha de mãe que abandona o filho.
A verdade é que o técnico sempre preferiu viajar com os moleques sem os pais mas êstes insistiam em ir junto em todos os campeonatos.
Já no aeroporto a coisa complicou pois tiveram de trocar o pneu do avião e eu, no terraço de Cumbica, assistindo preocupada com o que mais poderia acontecer.
Ensinei o filhote a lidar com moeda estranha, o sucre, mas depois contou-me que calculavam o valor das coisas pelo preço da Coca-Cola e do lanche e assim conseguiram se virar. Ficaram por lá uns quinze dias e a comida era tão ruim que meu filhote voltou  muito magro.
Espantei-me com suas observações sociais já bastante adultas pois contou  que o contraste entre ricos e pobres era muito grande. O Iate Clube de Salinas, muito chique à beira do Pacífico, ficava num bolsão de extrema pobreza. Impressionou-se com os carros dos frequentadores do clube, tudo importado, de Mercedes-Benz prá cima.
Contou ainda que desembarcaram em Guayaquil e foram com uma jardineira horrorosa até Salinas, cruzando um deserto com muitas cobras e, por causa das cobras, as casas eram palafitas no meio do areião. Durante a viajem, nas paradas, eram insistentemente incomodados por crianças vendendo quinquilharias e folhas de coca que invadiam o ônibus.
Mas, embora eu não soubesse e ficava atormentada com meu filho sozinho em um país estranho, êle sabia se virar muito bem. Arranjou regalias para si e todo dia, quando era hora de colocar e tirar os barcos da água, tinha preferência com um trabalhador índio que o ajudava em tudo porque era “el chico sin madre”. Presenteou-o com camisetas.
E eu me preocupando...

Nenhum comentário: