quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um pato

Lá pela década de 50 morava com minha família numa casinha geminada no bairro de Socorro, Santo Amaro, zona sul de São Paulo.
A casinha era do tipo clássico de vilas e tinha um jardinzinho na frente e um quintal que dava para uma fábrica de papelão onde diariamente o papelão molhado era estendido no imenso gramado para secar.
O nosso quintal não era grande mas o suficiente para nós crianças nos divertirmos  sob os sempre severos olhares da nossa mãe que ocupava o espaço para colocar a secar a imensidão de roupas que lavava, visto que éramos uma família de seis pessoas. E dava as eternas brigas pois sujávamos a roupa estendida.
Certo dia, perto da época do Natal, meus pais resolveram comprar um pato. Claro que nós achamos que era para nosso deleite e passamos a brincar com o novo bicho de estimação. Meu irmão caçula, ainda bem pequeno, se divertia espantando o pato pelo quintal inteiro e ria quando ele tentava voar.
Minha mãe explicava que deveríamos deixá-lo sossegado pois deveria engordar e com  a farra que fazíamos isto não iria acontecer nunca.
Afeiçoamo-nos ao pobre pato tão judiado e eis que um dia não o encontramos mais no quintal.
Cena clássica: apareceu morto na pia da cozinha prestes a ir para a assadeira. Era Natal. 
Meus pais, alemães severos, não permitiram extravasarmos comoção com a morte do nosso brinquedo. Foi-nos dito que o certo era assim e que não podíamos chorar por causa disso. 
Minha mãe esmerou-se no preparo da ave para a ceia, mas o pobre não apeteceu a nós crianças. 
Não achamos muita graça em comer algo tão divertido para se brincar.  Além disso estava duro, claro... de tanto correr da gente.

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