terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Outro tipo inesquecível

É até falta de respeito chamá-lo de tipo pois Boris Schnaiderman é um Mestre, um Professor como poucos. Foi meu professor de russo na USP.
Pois é, em 1970 resolví estudar língua e literatura russa em plena ditadura militar! Uma maluquice, segundo os que me rodeavam. O curso era tudo o que eu queria: língua e literatura portuguesa, literatura brasileira, linguística (adoro), idioma russo, literatura russa. Um deleite para minha ânsia da época de adquirir cultura. O curso era bem puxado.
Mestre Boris era calmo, amante da boa prosa e nos guiava serenamente pelos Puchkin, Maiakovsky, Gorki, etc. Acompanhava com interêsse os progressos que cada aluno da classe fazia no aprendizado do idioma, dado por outro professor, e alegrava-se dizendo que leríamos as obras em russo logo mais!! Sabíamos que já naquela época era o maior tradutor das obras russas e um intelectual respeitadíssimo, como é até hoje aos 93 anos, e nunca teve um único ataque de estrelismo.
O difícil naquela época era fazer com que os milicos entendessem que estudar a cultura e o idioma russo não tinham nada a ver com comunismo. Mas claro que não entendiam. Perseguiam o nosso querido professor e como a USP frequentemente era cercada pelo Dops ou sei lá qual polícia e havia alcagüetes em cada classe, uma bela noite assistimos o triste espetáculo dele ser preso na nossa frente e levado algemado para os arcabouços da ditadura porque protestou contra a entrada dos milicos na sala exigindo que os alunos apresentassem documentos. Fala disso na reportagem "linkada" acima. Foi preso várias vezes.
Abandonei o curso já no final do segundo ano porque não aguentava mais ser retida toda hora dentro do campus, para averiguações, com metralhadora no peito. Uma pena.
Tenho orgulho em dizer que o Professor me telefonou no ano seguinte perguntando porque não estava frequentando o curso.
O vento me levou prá outros ares...

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