sexta-feira, 18 de março de 2011

Batatas

Tenho algumas lembranças bem antigas quando ainda era muito pequenininha na Alemanha. Eram épocas de muita penúria, não havia alimentos, não havia nada e a luta pela sobrevivência no pós-guerra deve ter sido muito difícil mas eu não o percebia. Achava tudo normal.
Embora fôssemos privados de tudo eu não tenho nenhum trauma de infância como hoje se apregoa tanto. Brinquedos, nem pensar. Eu tinha uma boneca feita de meia, com os olhinhos, nariz e boca bordados e achava ótimo.
A parte de Hamburgo, onde morávamos, era ocupada pelos americanos e havia muitos saques e estupros. Para evitar um mal maior, sei disso hoje, fui despachada para a casa do meu avô, bem distante do centro urbano. Fiquei lá numa boa pois meu avô era muito criativo e sempre arrumava alguma coisa para eu brincar. Era um pequenino sítio com galinhas, porcos e árvores frutíferas: amoras, framboesas e coisas assim. Minha avó fazia toneladas de potes de geléia para estocar para o inverno e para trocar por outros alimentos.
Alí pertinho havia uma plantação de batatas e, para minha atual surpresa, já havia colheita mecanizada e o povo da região podia ficar na cerca esperando a máquina passar para catar as batatas que as máquinas não conseguiam colher. Lembra muito o final do filme Ilha das Flores que já postei neste blog.
Meu avô e eu também esperávamos na cerca e íamos catar as batatas no campo e eu tinha um aventalzinho com um bolsão onde colocava o precioso alimento. Percebia que era importante colher muitas batatas e o fazia com seriedade e alegria mas acho que nunca peguei mais do que umas três. Era uma forma de garantir uma sopa de batatas para o jantar. Hoje, olhando para trás, isto soa triste e penoso para uma criancinha mas garanto que não era e lembro deste tempo no sítio com meu avô como um época muito boa.
Depois soube que meu avô sofreu muito quando meus pais vieram me buscar para trazer para o Brasil.

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