terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ataque

O caminho era longo. Caminhar do Planalto Paulista até Moema para a escola às vezes era bem penoso, mas meus irmãos e eu tínhamos de fazê-lo diariamente, indo e voltando. Lá pelos anos 50 as crianças iam sozinhas para a escola e nós, com idade de oito ou nove anos, não éramos exceção.
Só que a caminhada as vezes nos reservava algumas surpresas: lá pelo meio do percurso ensinado pela nossa mãe tinha uma pequena chácara que criava gansos e outros animais. Estes gansos teimavam em fugir da chácara para a calçada. Eu tinha um medo danado em passar por ali. Meus irmãos nem tanto ou fingiam. Diariamente eu os atormentava para procurarmos outro caminho. Eles riam da irmã mais nova.
Mas minhas súplicas acabaram tendo efeito. Meu irmão resolveu seguir a figura de um pequeno quadro infantil que havia  no nosso quarto que retratava uma menina com uma vareta na mão guiando gansos. O quadro era bonitinho, bem infantil e na nossa imaginação era isso que deveria ser feito: guiar os gansos de volta para a chácara para eu passar. Armamo-nos com uma varetinha e seguimos confiantes para tirar os gansos do caminho.
O problema foi que os gansos não conheciam o código de conduta do nosso quadrinho e se sentiram ameçados pela varetinha que meu irmão empunhava: sofremos um grande ataque dos bichos com bicadas nas cabeças, nucas, pernas e traseiros. Doeu muito e voltamos para casa estropiados.
Minha mãe deu autorização para que mudássemos o caminho para a escola.

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