terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sua boa estrela

Meu pai era um fanático pelos automóveis Mercedes Benz. Quando via um carro desses na rua cultuava-o como uma divindade. Dizia que nada era mais perfeito.
Lá por 1960 conseguiu realizar seu sonho de possuir um: comprou um modelo de 1936, acho, importado e a diesel. Já tinha um formato moderninho, mais ou menos do Monza ou do Voyage. Reformou-o todinho, era muito craque nisto, deixando-o perfeito. Causava espanto e incredulidade nos postos de gasolina pois ia direto à bomba de diesel, naquela época só para caminhões e, no seu falar todo enrolado, explicava e mostrava o carro para as pessoas que acorriam para vê-lo.
Em 1963 viajou para a Alemanha, não sem antes de recomendar muito cuidado com seu xodó, sem dar autorização para meu irmão dirigí-lo.
Ocorre que 1963 realizaram-se os Jogos Pan-Americanos aqui em São Paulo e o meu clube (Yacht Club Santo Amaro), à beira da represa Guarapiranga, foi a sede náutica do evento. Velejadores de todos os países americanos, regatas disputadíssimas, pessoal animadíssimo. Foi lindo.
Ao final houve uma grande festa, com direito a escola de samba, muita farra e paquera.
 O que fizemos meu irmão e eu? Fomos à festa com o carro do papai, lógico. E... na volta meu irmão bateu a Mercedes querida ao não acertar o portão de casa. Avariou seriamente o pára-choque dianteiro esquerdo.
Poucos dias depois meus pais voltariam da viajem pelo aeroporto de Viracopos, perto de Campinas. Ficara combinado que nós os buscaríamos.  Não dava tempo de mandar consertar  e acho que nem tínhamos dinheiro para isto. Pedimos socorro ao nosso tio bonachão que se prontificou a nos levar para Campinas, estacionar de ré na saída do desembarque e distrair o nosso pai de tal forma que, ao guardar as malas, ele não tivesse a idéia de ir para frente do carro, para que a bronca sísmica só viesse já em São Paulo.
Tudo pronto para a recepção e a postos para a distração. Meu pai saiu da ala de desembarque sorrindo maliciosamente. Não se deixou distrair, nem nos cumprimentou e foi igual a uma flecha ver o estrago do carro.
Só aí percebemos que ele tinha um poderoso binóculo pendurado no pescoço e  durante o pouso do avião ficou escaneando o estacionamento para localizar o carro e viu o estrago já lá de cima!
Nossa sorte foi que ele estava de ótimo humor e achou graça das nossas armações. Ufa, a bronca não foi tão grande.



Um comentário:

Unknown disse...

por isso os pais devem sempre perdoar as barberagens dos filhos....