segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

The rains came

Estou na Índia, literariamente falando. Estou lendo um livro de Louis Bromfield, A grande chuva, em alemão. Está tomando todos os meus pensamentos e permeando meu cotidiano. Executo minhas tarefas corriqueiras bem rápido para poder voltar à leitura. E não é um livro de ação.
Passa na Índia por volta de 1930. O interessante não é o desenrolar dos acontecimentos e até a metade do livro não há quase acontecimento nenhum a não ser que todos esperam as grandes chuvas, as monções. O autor prende por uma infinita capacidade de descrever os diferentes tipos de pessoas e o embate das diferenças culturais dos hindus, europeus e americanos. A riqueza dos personagens vistos pela ótica de um viajante inglês, jovem nobre, culto e desinteressado, vai descrevendo os personagens com tanta profundidade que assusta: as professorinhas solteironas inglesas que vivem em Ranchipur há décadas e não conseguem sair de suas amarras britânicas, as famílias de  missionários americanos de dois diferentes caráteres, uns ambiciosos, elitistas e vazios, outros simples e trabalhadores que não se importam com diferenças sociais e que lutam para transmitir conhecimentos às crianças de baixas castas hindus, o rico lorde inglês fajuto, empresário predador e inescrupuloso casado com uma ninfomaníaca no ocaso de sua beleza fulgurante, o talentoso e belo major-médico brâmane, único capaz de compreender as almas das diversas culturas, a enfermeira escocesa chefe do hospital, o chefe de polícia hindu que tem de se mostrar progressista, mas que sempre volta à adoração dos deuses de sua cultura e ao culto das castas. Tudo isto  regido pelo marajá de Ranchipur e sua esposa, progressistas, cosmpolitas e desejosos de fazer do reinado um lugar moderno.
O ponto alto é um terremoto no início das chuvas que faz romper a barragem da região inundando toda a cidade. Instala-se grande caos, doenças, fome e todos, tão diferentes entre sí, demonstram nesses momentos de pânico suas coragens e fraquesas, abnegação e falta de caráter, oportunismo e sensibilidades às desgraças dos outros, conformismo e espírito de luta, pois de repente toda esta constelação de psiques é obrigada a conviver e iniciar a reconstrução.
Tudo isto permeado pelos mistérios da Índia, das castas e subcastas, dos diversos idiomas e dialetos, da ignorância e das religiões e crendices.

Saboroso.

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